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Pessoas por toda parte. Falam, andam, atravessam ruas, fazem sincronia perfeita com o trânsito que não pára, não respira. Barulho; muito barulho. Motores, buzinas, conversas, freios, apitos, música na lanchonete de esquina. “Um minas light e um laranja com acerola, por favor”. Um caminhão passa arrastando o ar. “Minas light e laranja com acerola!!!” o cara grita lá pra dentro. A luz verde acende. Pessoas se movimentam. Garagem do prédio é aberta, o carro que sai quer entrar na rua. Difícil. Ninguém dá passagem, ninguém espera. É a pressa... Sinal fecha, o vermelho entra. Paciência forçada, o carro consegue. A noite vai caindo... “Seu minas light e acerola com laranja, senhora”. Ah, até que enfim. Como devagar, saboreio o sanduíche. “Puta que pariu!” uma mulher grita ao fundo. Olho e observo que acaba de acontecer uma briga entre o motorista e a pedestre. A discussão se estende, as luzes dos postes já são necessárias e se exibem. Amarelo, vermelho, verde, farol, letreiros, outdoors, lojas, bolsas. Capitalismo exacerbado na entrada da noite, iluminado pela falha tentativa humana de substituição do sol. Corpos andantes entrelaçam seus caminhos e nem sabem bem ao certo o porquê, ou se isso de alguma forma tem importância. Agora, hora do rush. A famosa hora do rush... Potencialização da perdição dos passos. Carro de anúncios passa. Ônibus abarrotados, pontos cheios, cada pessoa carregando o seu cansaço do dia. Luz verde, luz vermelha. Amarelo, amarelo... Verde. Carro preto morre. Buzina. Buzina. Carro preto não anda. Grito. “Já vai, porra!” Táxi passa a frente, corta a moto, que quase cai. Carro preto empaca. Caminhão de carga despeja o material ao lado, impedindo toda a passagem. Moça sai da loja, criança corre pelos passantes, vovô anda em ritmo lento, atrapalhando o resto. Mulher corre com sacolas e consegue pegar o ônibus. Passa o 222, 323, 175, 1435B, 2345F, motorista grita “Taxi?!”; homem corre mas não consegue pega-lo. Buzina, mais buzina. Barulho, mais barulho. Vermelho, verde, amarelo, verde, vermelho, verde, amarelo, amarelo, amarelo...

“É muita informação.... né?”

Escuto ao meu lado. É meu namorado quem fala, pelo visto tão atordoado quanto eu. Solto o fiapo de voz que foi possível perto da minha pequenez naquele momento e respondo:

“É....”

Termino meu sanduíche, pago minha conta, entro no carro e volto para o longe. Há respiração onde eu moro...